Percepção Aérea das Cidades e o Papel do Arquiteto no Desenho Urbano

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Buenos Aires – Argentina. Foto de meu irmão de viagem Guilherme Lermen.

Tenho que confessar outra coisa a vocês, caros leitores: eu nunca tinha viajado de avião até um mês atrás e eu nem imaginava quando isso iria acontecer. Agora cá estou eu, no norte da Argentina escrevendo meu primeiro post como correspondente internacional da zoeira do desArquiteto. E adivinhem como eu cheguei aqui? Sim, de avião! High Five!

“Mas o que isso tem a ver com arquitetura?” Me perguntarão vocês. Bom, parte de vocês podem tomar esse primeiro parágrafo do post de hoje como uma tentativa minha de me vangloriar, mas eu juro por Niemeyer que arquitetura é principal assunto desse post. Já chego lá.

O Título do post já entrega o ouro e tira toda a graça da coisa, mas vamos fingir que vocês clicaram no link sem ler do que se tratava só porque o Blog tem credibilidade ou porque minha chefe tem os olhos mais bonitos de todo o Estado do Rio Grande do Sul (já posso ganhar aumento, Ketelyn? LoL).  Mas vamos lá.

Viajar de avião me deu uma nova visão sobre duas cidades, uma que eu conheço muito bem e amo mais do que todas as outras coisas: minha Porto Alegre; e outra sobre uma cidade que posso contar nos dedos as horas que passei nela, mas que já é uma cidade que posso dizer que amo, mesmo que platonicamente: Buenos Aires.

Algumas vezes na faculdade encontrei professores que me disseram que uma implantação de um edifício não tem que ser bonita e sim funcional. Não somos pássaros e, portanto, a visão da cobertura de um edifício não é tão importante.  Confesso que parte de mim concordava com isso, mas após ver duas belas cidades de cima, pude me dar conta de duas coisas: a primeira é que cobertura de um edifício é tão importante como as outras 4 fachadas que o mesmo possui.  Mesmo a vários mil metros de distancia, é muito fácil notar a diferença entre uma laje impermeabilizada modernista e um telhado  de quatro águas com telhas portuguesas representantes do ecletismo. E isso me leva a segunda e mais importante observação dessa minha primeira viagem de avião: O quão grande é nosso papel como Arquitetos e Urbanistas.

Tenho vários amigos na faculdade, muitos deles excelentes arquitetos, que não gostam de Urbanismo e não se veem como Urbanistas. Mas este meu primeiro voo me fez perceber que não há escolha para nós, arquitetos, em ser ou não Urbanistas e que isso é uma consequência do que escolhemos fazer. Ao projetar um edifício, um arquiteto está inserindo ou modificando um desenho do espaço urbano. Olhando do alto, onde antes havia um  quadrado verde agora a retângulos cinzas, brancos ou laranjas; onde antes havia retângulos laranjas agora há pequenos retângulos verdes. Uma cidade nada mais é do que um imenso projeto arquitetônico, onde cada pessoa que escolhe construir ou modificar algo nesse contexto, sendo essa pessoa arquiteta ou não, é responsável por uma pequena, mas importantíssima fração do desenho geral do projeto, um projeto que nunca está pronto.

Um Urbanista de fato toma para si a responsabilidades de tecer as linhas básicas da cidade. As vias, o tipo de modulação das quadras, os fluxos, as dimensões dos lotes, o desenho urbano, etc. Podemos dizer que o urbanista, juntamente com sua equipe multidisciplinar, faz o desenho básico, a malha que irá estruturar o desenho final da cidade. Seu trabalho é importantíssimo, mas é só a primeira parte de um trabalho muito mais abrangente e coletivo. Os arquitetos, os mais comuns arquitetos, não são os únicos responsáveis por dar continuidade ao desenho ta cidade (todos aqueles que fazem uma construção, sendo ela efêmera ou não, na cidade são responsáveis por dar continuidade ao desenho), mas são aqueles que tem maior responsabilidade pois estudam para isso. Suas decisões, mesma a escolha do tipo de telha usada, são carregadas de significado e responsabilidade.

Viajar de avião me tornou ainda mais ciente da importância da profissão que escolhi seguir. Nós, aqueles que estudam para aprender a projetar um desenho lógico do que a há na imaginação das pessoa, temos uma importância gigantesca no desenho das cidades. Cabe a nós arquitetos dar lógica ao desenho urbano, mesmo quando projetamos um único e simples edifício. Somos como pintores que desenham os traços mais fortes de uma grande tela compartilhada. A beleza do quadro se dá pela consciência que damos a cada pequeno traço que fazemos no desenho das cidades, de modo que uma bela cidade necessita de bons arquitetos, conscientes da importância e da abrangência de seu trabalho, da mesma forma que bons arquitetos necessitam de uma bela cidade para lhes inspirar. Arquitetura é um fluxo constante de ideias e pensamentos que nunca termina e estão sempre mudando, e como consequência disso, uma boa cidade está sempre em transformação, como que alegando que seus projetistas nunca se cansam de ter novas e melhores ideias. A de se respeitar e manter o que já foi feito de bom por nossos antecessores, mas a transformação é a prova mais capital de que há vida inteligente e pensante nas cidades.

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